O Dia em que Roubaram a Torre

Era um dia normal de trabalho. Daqueles em que reuniões normais reúnem pessoas igualmente normais e pensantes. Tudo transcorreu dentro do esperado: pauta, discussão, pausa para o almoço — essa, claro, também absolutamente normal. O grupo se dirigiu ao restaurante habitual, conversas ao redor da mesa, risadas contidas, assuntos que flutuavam entre o trivial e o nem tão trivial assim. Depois, todos voltaram para a rotina, ainda embalados pelo torpor pós-refeição. Até que, quase no fim do expediente, a normalidade foi quebrada.

 

— Roubaram a minha torre! — exclamou, indignada, uma colega do setor.

Um silêncio de segundos. E então, como quem já tinha tudo resolvido na cabeça, outra voz disparou:

— Foi o Fulano!

Fulano, que tomava um gole de café, engasgou. Com a voz embargada de susto e indignação, tentou se defender:

— Eu devolvi a torre ontem à noite, por volta das sete! Todos estávamos juntos o dia inteiro na reunião. Como ela sumiu de novo?

Começaram as perguntas. A moça tinha certeza de que a torre não estava lá? Tinha. Disse que, na hora do almoço, passou pelo setor e viu a ausência. Mas… como assim?

Alguém se deu conta de um detalhe crucial: todos tinham almoçado juntos, no mesmo restaurante, longe dali. Não havia tempo hábil para a moça ter ido até a sala e voltado sem que ninguém percebesse.

Enquanto as interrogações se multiplicavam no ar, no outro canto da sala, Fulano sussurrava para si mesmo, em looping mental:

— Será que eu devolvi mesmo a torre? Será que só achei que devolvi?

E do outro lado da sala, a acusadora também começava a duvidar:

— Quem é que roubaria uma torre de enfeite?

Pausa. Alguém, com um pouco mais de informação, resolveu intervir:

— A torre… era a torre do computador, né?

Ah, a peça que faltava! O mistério ganhou contornos mais concretos. A moça, então, lembrou: não fora hoje. Ela notara a ausência da torre ontem, antes da tal reunião que ocupou o dia inteiro. E Fulano, enfim, teve certeza: ele devolveu realmente a torre na noite anterior.

Pronto. O quebra-cabeça se encaixava. A torre não fora roubada. Nunca esteve fora do lugar no tempo que todos achavam. E aquele bando de pessoas normais — ou quase — desabou em gargalhadas nervosas, aliviadas, como se tivessem acabado de resolver um caso criminal digno de série policial.

E assim terminou mais um dia comum, com uma reunião comum, de pessoas nada comuns, que descobriram que às vezes, tudo que se precisa para sair da rotina é o desaparecimento temporário de uma torre.

 

 Até breve!!