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Como reencantar a leitura literária nas escolas: uma reflexão para educadores.


menina lendo livro

 
Recentemente, ao aplicar uma avaliação em uma turma de 4º ano do ensino fundamental, vivi uma situação simples, mas profundamente significativa. As crianças iam terminando suas questões e, aos poucos, sentavam-se próximas umas das outras para conversar. Foi então que uma aluna me chamou a atenção: ao entregar sua atividade, voltou tranquilamente para o lugar, abriu a mochila, tirou um livro e começou a ler.

Meu coração acelerou. Fiquei eufórica, quase sem entender por quê. Decidi não interrompê-la com aquelas perguntas que, como professores, costumamos fazer — “O que você está lendo?”, “Você gosta desse livro?” — preferi apenas observar. Mas, no fim da aula, não resisti e, como uma boa leitora, perguntei que livro ela estava lendo.

Saí daquela sala com uma sensação estranha. A cena da menina lendo era linda, mas também inesperada — e isso me incomodou. A leitura espontânea em sala de aula, que deveria ser algo natural e cotidiano, tornou-se um gesto raro, quase excepcional. Minha alegria vinha acompanhada de uma certa tristeza, um aperto no peito. E foi aí que entendi: fiquei surpresa porque aquilo que deveria ser comum passou a ser quase inexistente.

Desde então, tenho alimentado ainda mais minhas reflexões sobre como reencantar a leitura literária na escola.
 

Por que a leitura literária está distante das crianças?

Falamos com frequência sobre a importância da leitura no processo de ensino e aprendizagem. Defendemos a presença da literatura nas salas de aula, incentivamos o contato com os livros desde a infância. Mas, na prática, o que estamos oferecendo às crianças? Quando dizemos que elas “precisam ler”, que tipo de leitura estamos propondo?
A sociedade já impõe tantas obrigações. Será que precisamos transformar também a leitura em mais uma tarefa a ser cumprida? Quando a leitura é tratada apenas como exigência escolar, ela perde sua essência encantadora. Ler por obrigação não forma leitores apaixonados.
 

Ler por prazer ou por dever

A didática nos oferece muitos caminhos para ensinar, mas, quando se trata de literatura, acredito que o encantamento vem primeiro. Por isso, me pergunto: por que insistimos em criar textos para ensinar a ler, quando a própria sociedade já se encarregou disso?

A literatura é arte, é expressão, é vida. Quando tentamos “ensinar literatura” de forma engessada, arriscamos afastar as crianças do que realmente importa: a emoção, a curiosidade, a liberdade de escolha, a identificação com os personagens, o mergulho em outros mundos.

Imagine se, ao visitar a biblioteca da escola, cada criança pudesse simplesmente escolher um livro para ler — sem a obrigação de dizer depois se gostou, sem precisar responder questionários. Apenas ler. Apenas viver a experiência.

O papel do professor e a experiência com a leitura

Não trago essas reflexões para apontar culpados. Ao contrário: trago como convite. Porque nós, professores, muitas vezes também estamos afastados da leitura. E como encantar alguém com algo que já não nos encanta — ou que talvez nunca tenha nos encantado?

Acredito no poder das experiências compartilhadas. Talvez um clube de leitura entre professores fosse um bom começo. Um espaço leve, onde pudéssemos falar sobre livros que nos tocaram, trocar ideias, despertar de novo a nossa própria paixão pela literatura. E, quem sabe, essa corrente de encantamento chegaria até os nossos alunos.

Vamos fazer a leitura pulsar novamente?

O encantamento é contagiante. Mas, para ser verdadeiro, precisa pulsar na alma, no coração. Por isso, deixo aqui meu convite: a você, professor, educador, pai, mãe, leitor — vamos juntos fazer a leitura pulsar de novo nas escolas?

Mais do que urgente, é necessário e vital reencantar o contato com os livros. Porque onde há leitura, há imaginação, liberdade, pensamento crítico — e tudo isso começa com um gesto simples, como o de uma criança abrindo sua mochila e escolhendo ler.
 
 

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Até Breve!
Vanessa Vieira

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