Resenha: Depois a louca sou eu. - Tati Bernardi

Oi gente! Hoje eu trouxe o livro de uma autora muito conhecida, a Tati Bernadi. Entretanto, duvido que muita gente conheça sua história de vida, seus dramas, crises e medicações. Em "Depois a louca sou eu" ela nos mostra esse seu lado, com muito humor, claro.


Título: Depois A Louca Sou Eu
Autor: Tati Bernardi
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2015 -  144 páginas
ISBN: 978-85-3592-657-6


Em Depois a louca sou eu, Tati Bernardi escreve sobre a ansiedade com um estilo escrachado, ágil, inteligente e confessional. As crises de pânico, a mania de organização, os remédios tarja-preta e os efeitos da ansiedade em sua vida aparecem sob o filtro de uma cabeça fervilhante de pensamentos, mãos trêmulas...


Quem nunca leu uma frase de Tati Bernardi e se identificou que atire a primeira pedra. Ela é conhecida e tem muitos seguidores pela internet. Mas, de fato eu não sabia quem era e de onde vinha. Nunca li um livro sequer da autora. E não poderia ter acertado melhor ao escolher essa leitura. Primeiro, porque sou amante de crônicas. E segundo, porque, para quem não conhece Tati Bernardi esse é o livro que pode desnudá-la. Através de 24 crônicas, ela nos conta a ideia do livro: falar sobre os seus medos. Sem medidas, sem pudor, sem avisos. E assim o faz.

Me apresentei: “sei exatamente que merda é essa”. Apresentei o Rivotril: “você vai melhorar em poucos minutos”. Ela disse que não tomava nada “que os outros lhe dessem” e sem receita. Ainda era grossa, a maluca. Eu descartei um sublingual, dei na mão dela e lancei o mistério: “não precisa tomar, às vezes só de ter ele por perto eu já fico bem”. Voltei para o meu assento e fiquei observando. Marido, aeromoça e passageiros ao redor da menina começaram a fazer um coro: “toma, eu já tomei”. Toma, eu já tomei. Não é legal ter alguém surtando do nosso lado, lembrando que todos têm motivo para enlouquecer e que apenas os mais sãos de fato dão voz a isso. E ela tomou. E capotou em estado de graça cinco minutos depois. Como uma criança que relaxa sugando o seio da mãe depois de várias mamadeiras azedas. A garota tinha voltado para casa. O marido dela sorria tanto para mim que temi “estar rolando um lance entre nós”. Achei que era Rivotril e era só amor. Sempre. (Pág.28)

Somos apresentados a Tati criança que já tinha lá suas paranoias, a adolescente e seus (tantos) namorados psiquiatras, ao início do caso de amor com os remédios e claro, o término. Descobrimos que seu avô entrava nas pilhas dela e criava uma bolha. Tem que ser muito corajoso para nos revelar tanto de sua intimidade como Tati faz nesse livro. O leitor tem a oportunidade de se divertir (pelo bom humor) e se emocionar com as crises e ansiedade recorrentes. Mas engana-se quem pensa que ela se faz de vítima. Ao contrário, ás vezes se sente culpada, frágil... Muitas das histórias me chocaram a ponto de eu ler em voz alta para quem estivesse ao meu lado e soltasse um "ela é louca" e outros momentos eu super concordei e pensei: "também faço isso, tenho esse toque". Tati Bernardi é humana, comete erros, tem sua mente girando o tempo todo. Poderia ser qualquer um. Exceto pela habilidade com as palavras e um linguajar peculiar que a torna especial.


Estou livre, só por hoje, das listas mentais de tudo o que precisa estar certo e limpo e enquadrado. Eu que não bebo porque não gosto e porque não quero, misturo cerveja com vinho. Como maionese com sangue com manteiga com saliva de alguém que me devolve um copo que nem era meu. Chupo o restinho de batom numa bituca empretecida. Completamente desprovida de “regras para um sábado”, experimento a tarde como se enfim pertencesse ao grupo de jovens normais que curtem porque assim é que se faz e ponto final. (pág. 75)

Aos quatro anos eu tinha medo do número 5. Você faz dois tracinhos bem retinhos e “na deles”, e então vem, em total descontrole e audácia, uma barriga bem metida botando um fim na calmaria. Essa junção de formas intensamente díspares me emocionava tanto que eu travava. Eu achava bem doido o número 5. Desenhar o 5 “por aí”, tendo menos de cinco anos, era como fumar crack às escondidas dos meus pais. (Pág 39)

Eu sinceramente indico o livro a todos que já se perguntaram sobre lucidez alguma vez na vida e até os que nunca pararam para pensar na vida de quem depende de remédios como Rivotril. É duro! Vejam o outro lado da história. E quem aqui já não teve seus momentos de loucura? Fica a dica!


 



Besos!

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